domingo, 27 de julho de 2014

Carta a Vossa Excelência


Apesar de terem exterminado o meu povo, os meus pais, a minha mulher, os meus irmãos e os meus filhos, continuarei a manter, perante vós, uma linguagem correta e até delicada visto entender que esta é a única forma de os seres humanos educados comunicarem e dialogarem entre si. Assim, esquecendo as barbaridades físicas que fizeram aos meus filhos, gostaria nesta oportunidade de vos pedir, de uma forma objetiva, um pequeno empréstimo no valor de cinquenta mil euros.
Esta quantia que, prometo, aplicarei exclusivamente num memorial de homenagem às vítimas de Vossa Excelência, será reembolsada, com os juros devidos, ainda antes do fim do ano. Se tal não suceder comprometo-me, desde já, a disponibilizar um dos meus órgãos para que os filhos de Vossa Excelência possam usufruir de uma espécie de suplente orgânico. Gostaria de vos assegurar que, neste instante, nesta cadeira, escrevo esta carta com uma postura contida e modesta e todo o meu ódio está por agora totalmente suspenso, facto que estou certo de que valorizará no que tal significa de tremendo esforço.
Despeço-me desejando, com sinceridade, que dirija os seus próximos massacres para os meus vizinhos de cima, cujas crianças não param de jogar futebol em plena casa, por vezes à noite.
Com os melhores cumprimentos,
subscrevo-me atenciosamente.


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