domingo, 7 de maio de 2017

Terras do Demo - Junho


Inácio Relvas Maturranga de Mioma gozava a tarde de Junho à sombra da latada que cobria de frescura o pátio antigo e o tanque, em que se vinham lançar águas de mina, deixando ao despedir do boeiro um soluço sem fim. Uma galinha dava aula aos pintainhos, mesmo debaixo de seus pés, e suspendeu a leitura de Comédia Ulyssipo a observar-lhes a manobra, trajados ainda do pêlo do demo, nas rémiges um pó de arco-íris, gárrulos e inocentes como os diabinhos dos velhos autos. A chieira que erguiam, ao prear mosca ou cibato perdido, quebrava o silêncio do lugar, fechado ao mundo, e aberto em toda a frente dele, ao horizonte infinito. Pinhais taciturnos, baldios de fieito e de sargaço eram levados na envolta efusiva do verde; e céu azul, terra em festa, os animaizinhos do Senhor cantavam. Cantavam. Cantavam todos nos seus jardins de serradela, ou à boca dos agulheiros, o grilo, o ralo, a cigarra vadia; na mata que, às horas do poente, estendia sua sombra pelos mortos, a rola e a poupa arrulhavam; e ali nas cerejas do quintal, que já tinham bichos, o passaredo moinante parecia uma aula de meninos mal criados. A Primavera despedia discretamente, sem avisar, vinha aí o Verão, um senhor Verão de chapéu de palha e cara pintada das amoras e das uvas. Aves e insectos celebravam a vinda estrondosa do grande rabaceiro, que lhes trazia fêmea, um silo, e farândolas de mosquitinhos loucos para encher o papo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário