domingo, 15 de outubro de 2017

O lixo



Sempre a voz do limpo fora a cara da arte.
Podiam deixar-se cair os olhos no contorno
ou mergulhá-los na sombra,
tinha-se sempre a limpidez do nu.

O nu era o canto     a face     o gesto
o limpo telegrama abstracto
a mensagem
porque o LIXO     sabêmo-lo
por repugnante     era expurgado.

Suprimido dos objectos          dos corpos
                  dos ambientes       dos espíritos
quando se exprimia tirava-se o abjecto.

Só o limpo era o requinte.

Por isso        a arte
fazia passar tudo pelo quarto de banho.
A higiene começou assim
nos altos domínios da palavra e do desenho.
O lixo não se usava
escondido       tinha um viver secreto.
Foi preciso chegarmos à era da limpeza do cérebro
da medicina e da psico-análise
para descobrir poesia       e utilidade
no LIXO.

Salette Tavares
http://www.sabado.pt/video/artes/detalhe/o-artista-que-transforma-lixo-em-arte

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