Av. Dr. Lourenço Peixinho, 1953
Iluminaçóes de Natal 2022
Era na casa de Aveiro que toda a família se reunia, para comemorar as datas importantes como o Natal e passar uns dias de férias. No tempo da avó juntavam-se as quatro gerações: a avó, os seus filhos, netos e bisnetos. Era uma casa de portas abertas onde, por princípio, se arranjava sempre mais um lugar à mesa e uma cama para dormir para os familiares e amigos.
Normalmente reinava a boa disposição à mesa, todos brincavam e gozavam uns com os outros. Além disso se, por acaso, alguma iguaria era muito do agrado de alguém, este utilizava a táctica de começar a dizer mal, mas mesmo muito mal da comida, porque se os outros não comessem, mais ficava para ele! Existia um “Livro de Reclamações”, como em qualquer unidade hoteleira que se preze (!), colocado bem à vista de todos na casa de jantar. Às vezes divertiam-se imenso a reler, por exemplo, as queixas apresentadas pelos netos, quando ainda eram crianças e adolescentes.
Voltando mais atrás, esta casa testemunhou e tinha sofrido imenso com as traquinices dos filhos quando crianças (principalmente dos dois mais velhos). Imaginem sapatinhos a voar pelas janelas para grande desespero da avó e, melhor ainda, uma vez arremessaram paus (daqueles normalmente utilizados para ajustar o tapete aos degraus das escadas) através da janela do sótão estilhaçando violentamente os vidros que recobriam o espaço entre os dois prédios. E que dizer das escavações que fizeram nas paredes do sótão, como se procurassem algum tesouro!
Na verdade, na sua meninice, os filhos tiveram a sorte de gozar de bastante liberdade para brincar dentro de casa. Podiam andar de triciclo e até de comboio com as cadeiras que arrastavam pelo corredor! Quando os pais saíam à noite era um forrobodó: saltavam em cima dos colchões das camas que serviam de trampolim e treinavam a pontaria com as almofadas tentando acertar nas cabeças uns dos outros. Contavam com a cumplicidade da empregada, nesse tempo interna que, enfim, era apenas um pouco mais velha do que eles.
Mais tarde, como todos os adolescentes, gostavam de ouvir música (discos em vinil, normalmente um long play) com o volume de som tão alto que se ouvia do outro lado da avenida. O avô sentia um grande orgulho na sua aparelhagem que, pela sua qualidade (as colunas eram enormes, o gira-disco com uma agulha especial), suscitava a admiração dos amigos dos filhos.
Não foram muitos, mas ficaram famosos os bailes que tiverem lugar nesta casa, apadrinhados pela avó, para comemorar o aniversário dos seus descendentes, possibilitando um convívio rapazes/raparigas pouco habitual antes do 25 de Abril.
Entretanto os filhos cresceram, tornaram-se adultos e cada um foi à sua vida… No entanto a ligação à casa de família em Aveiro manteve-se e foi transmitida às gerações mais novas.
Falta dizer que esta avó era uma espécie de castelã e esta casa o castelo encantado de todas as crianças que por aí passaram.
HN
gostei imenso
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