sábado, 21 de junho de 2025
Casa de Zeca em Monsanto
sexta-feira, 20 de junho de 2025
Senhora do Almurtão
No segundo domingo da Páscoa e 2ª feira seguinte (dia do feriado
municipal) realizam-se as Festas em
honra de Nossa Senhora de Almortão. É um culto muito antigo que atrai, todos os
anos, milhares de visitantes a Idanha-a-Nova.
A romaria começa com uma missa solene, seguida de uma procissão
tradicional. Após as cerimónias religiosas, as famílias e amigos reúnem-se para
o convívio, onde se partilham momentos de alegria e muita animação. A festa é
conhecida pelos tradicionais concertos de adufes e cantares tradicionais, com
quadras dedicadas à Senhora do Almortão, que evocam a libertação do domínio
espanhol.
Lenda passada de geração em geração:
Num certo dia, neste sítio, um rapazinho que andava a guardar cabras viu, aqui no meio duma murteira, atrás desta fonte, uma santinha que parecia de marfim. Agarrou na santinha e guardou-a no sarrão. Chegou a casa e disse à mãe:
– Trago aqui uma santinha que encontrei, numa murteira ao pé duma fonte.
Diz-lhe a mãe:
– Achaste?
Abriu o sarrão e a santinha não estava lá. E disse para a mãe:
– Ora esta, trazia aqui uma santinha tão bonita e já cá não está!
No dia seguinte, voltou com o gado para o mesmo sítio e viu que estava lá a santinha, no meio da murteira. Agarrou nela, tornou a metê-la lá dentro e atou a boca com uma verguinha dum ramo de giesta ou piorno que encontrou.
E disse o rapaz para si mesmo:
– Ontem fugiste, mas hoje já não foges porque vais atada.
Quando chegou a casa, disse para a mãe:
– Agora já a trago. Atei-a.
Depois, ao abrir, disse:
– Mãe, é impossível! Não está cá!
A mãe disse-lhe que era uma ilusão que trazia com ele.
Respondeu o rapaz:
– Não, não é, mãe. Venha lá comigo. Há aqui um segredo qualquer.
E a mãe respondeu:
– Não é um segredo, é uma ilusão que trazes contigo.
E então, pediu por tudo à mãe para lá ir com ele. A mãe foi ao sítio e viu a santinha no meio da murteira e ficou sem fala.
Depois, disse a mãe:
– Que santinha será esta? Não a vamos levar daqui.
Depressa o povo acorreu e, maravilhado, decidiu levantar a capelinha, mas como o sítio em que apareceu a santinha era baixo, o povo resolveu levantar uma capelinha, no sítio onde se encontra ainda hoje que se via ao longe de todo o lado.
quinta-feira, 19 de junho de 2025
Homenagem de Namora a Monsanto
O escritor português Fernando Namora exerceu a função de médico municipal de Monsanto de 1944 a 1946. Na sua obra "A Nave de Pedra", reconhece o quanto o marcaram para sempre esses dois anos passados num local à época quase totalmente isolado, cujos habitantes eram naturalmente muito pouco receptivos aos avanços da medicina.
Homens e panoramas desta estremadura beiroa, de deconfiança em alerta, nos oferecem, pois, a ideia de um viver tão duro quanto marginal. Curtido na servidão e por isso amuado. Se, em muitos sítios (a que o viajante esteja afeito, como eu o estava), ao camponês pertence o agro onde mal cabe a sua sombra mas onde planta uma esperançada tenacidade, na Beira-Baixa, na maioria dos casos, nem isso: o campónio tem de seu os braços e aluga-os para subsistir. Ou então, parte: a raia é um ir e vir no mesmo dia, o jogo de morte com a guarda compensa quem à vida dá mais préstimo que valor; e a cidade também é aceno que tenta, por muito que um jugoseja trocado por outro por vezes maior.
https://www.youtube.com/watch?v=337FcBClIBM&list=RDEMEyrSVk8xqQjr99iqrWslqA&index=1
quinta-feira, 1 de maio de 2025
Islândia 3





Constava-se que, num tempo inicial, voavam dragões famintos que devoravam tudo quanto lhes adoçasse as entranhas zangadas. Constava-se que, devastadas as coisas todas, os dragões haviam perdido a capacidade de voar e haviam parado exaustos um pouco por toda a parte. Arfavam e empederniam. Dizia-se que, de tão grandes e espessas peles, haviam radicado como montanhas de boca aberta. Passados infinitos séculos, alguns fumegavam ainda. Algumas bocas, no resto da raiva que continham, cuspiam fogo, já como dragões de pedra. Bichos gordos absolutamente feitos de pedra. Era engraçado olhar para as montanhas da Islândia e imaginar dragões acotovelados. Gigantes e cansados, mas talvez ainda ferroando-se e chamuscando-se uns aos outros por dentro. Culpados e culpando-se de terem tido tanta gula e tanta incúria.
Valter Hugo Mãe, excerto do romance "Desumanização" inspirado na Islândia
https://www.youtube.com/watch?v=G3BU5kAMnms
Islândia 2
Borges e a Islândia
Desde a juventude, Jorge Luis Borges sentia um enorme fascínio pela beleza inóspita da chamada ilha do gelo e do fogo e pela sua literatura medieval, fundamental para a compreensão da mitologia nórdica.
Qué dicha para los hombres,
Islandia de los mares, que existas.
Islandia de la nieve silenciosa y del agua ferviente.
Islandia de la noche que se aboveda
Sobre la vigilia y el sueño.
Isla del día blanco que regresa
Joven y mortal como Baldr.
Fría rosa, isla secreta
Que fuiste la memoria de Germania
Y salvaste para nosotros
Su apagada, enterrada mitología…
Midgarthormr
Nostalgia do Presente
«O que eu daria pela felicidade
de estar ao teu lado na Islândia
sob o grande dia imóvel
e de repartir o agora
como se reparte a música
ou o sabor de um fruto.»
Naquele preciso momento
o homem estava junto dela na Islândia.
quarta-feira, 23 de abril de 2025
Islândia 1
sexta-feira, 21 de março de 2025
A propósito de guerras
Tome-se um homem,
Feito de nada, como nós,
E em tamanho natural.
Embeba-se-lhe a carne,
Lentamente,
Duma certeza aguda, irracional,
Intensa como o ódio ou como a fome.
Depois, perto do fim,
Agite-se um pendão
E toque-se um clarim.
Serve-se morto.
Reinaldo Ferreira
https://www.youtube.com/watch?v=VMbJ3bQUPRs
Elegia I
Dest'arte me chegou minha ventura
a esta desejada e longa terra,
de todo o pobre honrado sepultura.
Vi quanta vaïdade em nós se encerra,
e dos próprios quão pouca; contra quem
foi logo necessário termos guerra.
Que üa ilha que o rei de Porcá tem,
que o rei da Pimenta lhe tomara,
fomos tomar-lha, e sucedeu-nos bem.
Com üa armada grossa, que ajuntara
o vizo-rei de Goa, nos partimos
com toda a gente d'armas que se achara,
e com pouco trabalho destruímos
a gente no curvo arco exercitada;
com mortes, com incêndios, os punimos.
Nela nos detivemos sós dous dias,
que foram para alguns os derradeiros,
que passaram de Estige as águas frias.
Oh, lavradores bem-aventurados!
Se conhecessem seu contentamento,
como vivem no campo sossegados!
Dá-lhes a justa terra o mantimento,
dá-lhes a fonte clara a água pura,
mungem suas ovelhas cento a cento.
Não vêm o mar irado, a noite escura,
por ir buscar a pedra do Oriente;
não temem o furor da guerra dura.
Vive um com suas árvores contente,
sem lhe quebrar o sono sossegado
o cuidado do ouro reluzente.
Luís de Camões (texto com supressões)
A guerra, que aflige...
A guerra, que aflige com os seus esquadrões o Mundo,
É o tipo perfeito do erro da filosofia.
A guerra, como tudo humano, quer alterar.
E alterar depressa.
Mas a guerra inflige a morte.
E a morte é o desprezo do Universo por nós.
Tendo por consequência a morte, a guerra prova que é falsa.
Sendo falsa, prova que é falso todo o querer-alterar.
Deixemos o universo exterior e os outros homens onde a Natureza os pôs.
Tudo é orgulho e inconsciência.
Tudo é querer mexer-se, fazer coisas, deixar rasto.
Para o coração e o comandante dos esquadrões
Regressa aos bocados o universo exterior.
A química directa da Natureza
Não deixa lugar vago para o pensamento.
A humanidade é uma revolta de escravos.
A humanidade é um governo usurpado pelo povo.
Existe porque usurpou, mas erra porque usurpar é não ter direito.
Deixai existir o mundo exterior e a humanidade natural!
Paz a todas as coisas pré-humanas, mesmo no homem,
Paz à essência inteiramente exterior do Universo!