sábado, 28 de maio de 2011

Adão e Eva no Paraíso


E quanto lhe não deve a humanidade! Recordemos, meus irmãos, que nossa Mãe, com aquela adivinhação superior que mais tarde a tornou profetisa e sibila, não hesitou, quando a serpente lhe disse, coleando entre as rosas: "Come do fruto do Saber, que os teus olhos se abrirão, e serás como os deuses sabedores!" Adão teria comido a serpente, bocado mais suculento. Nem acreditaria em frutos que comunicam a divindade e sapiência, ele que tanta fruta comera nas árvores e se conservava insciente e bestial com o urso e o auroque. Eva, porém, com a credibilidade sublime que sempre no mundo opera as transformações sublimes, comeu logo a maçã, e a casca, e a pevide. E persuadindo Adão a que partilhasse do transcendente pomo, muito doce e enredosamente o convenceu do proveito, da felicidade, da glória e da força que dá o saber! Esta alegoria dos poetas do Génesis, com esplêndida subtileza nos revela a imensa obra de Eva nos anos dolorosos do Paraíso. Por ela Deus continua a Criação superior, a do reino espiritual, a que desenrola sobre a Terra o lar, a família, a tribo, a cidade. É Eva que cimenta e bate as grandes pedras angulares na construção da humanidade.

Eça de Queiroz
http://www.youtube.com/watch?v=Z525ijtQ5Uw

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