sexta-feira, 13 de maio de 2011

No Cabedelo...e não só



Era no Cabedelo que tomávamos os melhores banhos, deitados na areia, deixando vir sobre nós a vaga num rodilhão de algas e espuma. Andar um momento envolvido na crista da onda, ser atirado numa sufocação sobre a areia, correr de novo para o mar, direito à vaga que se encapela lá no fundo, formando concha, outra vez aturdido e impregnado de uma vida nova; e depois procurar, a escorrer, um côncavo quentinho de areia que nos sirva de abrigo contra o vento e secar-se a gente naquele lençol doirado - é uma das coisas boas da terra. E outro prazer simples e extraordinário, é ir descalço pelo grande areal fora com os pés na água. A onda vem, espraia-se, molha-nos e salpica-nos de espuma. Calca-se esse mosto branco e salgado, que gela e vivifica, e caminha-se sempre ao lado dos sucessivos rolos que se despedaçam na areia. Ao longe, o mar chapeado de placas movediças... A onda vem, cresce, e antes de se despedaçar em espuma, o sol veste-a de uma armadura de aço a reluzir. Há-as de um esverdeado de alga morta, há-as que se derretem e fundem em torvelinhos de branco, e há-as que recuam e se enovelam noutras ondas prestes a desabar. Mas há umas, esplêndidas, que vi em Mira, ao pôr-do-sol, quando o vasto areal fica todo ensanguentado. A onda forma-se e corre por aquela  magnífica estrada que vem do sol até à praia, ganha primeiro reflexos doirados na crista, e depois, quando se estira pelo areal molhado, fica cor do vinho nos lagares.

Raul Brandão
http://www.youtube.com/watch?v=h9EXImX6rKE

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