domingo, 17 de junho de 2012

De Aveiro à Costa


De Aveiro à Costa: o riscado é a escolha do céu.
Quando vou a Aveiro, entro sempre pelo sentido das praias.  Ainda na estrada, já o olhar se anima com os quadrados de água onde brilha o sal que sobe em colinas brancas. É uma cidade de luz que vem marulhar nos nossos olhos. Em breve, na outra margem da ria, pequenas casas deixam entrever os antigos palheiros da Beira-Mar, onde ainda há portas ao trinco e as pessoas se conhecem por alcunhas. O cantado das gentes sem chave vem da ondulação da água, do braço de mar que entra pela cidade com os moliceiros amarelo-quente, aproando figuras coloridas.
Na primeira rotunda, entre as marinhas de sal e as cores da ria citadina, um dos itinerários leva direito às praias. Ao passarem pela ponte sobre o azul-verde das águas com pequenas ilhas de terra ao capricho das marés, abram a janela, as narinas, os olhos do corpo. As dunas de areia fina em movimentos orgânicos sinuam a vegetação. Nem o vento resiste a acariciá-las, nem elas ficam impassíveis. Às vezes brilham nos arbustos camarinhas diáfanas como contas de colar, como o leite que amamenta. Ao trincá-las, sentimos como são selvagens, de um acre gostoso, imprevisível.
Depois da ponte, viro à esquerda e rumo à Costa Nova. Se o riscado foi, durante muito, tecido do diabo, prometo-vos agora uma alma toda nova. Quem conhece, sonha comprar ou alugar uma casa com vista. A Costa vem nos mapas, está na net, nos livros de turismo. Mas nada se compara à visão das casas em riscado branco que por nós desfilam.

Rosa Alice Branco
http://www.youtube.com/watch?v=c1oxr3PUXr0 

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