segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Monsaraz


16 de novembro
Como sempre, era já noite quando chegámos a Monsaraz. O largo da igreja, totalmente deserto e silencioso, com o pelourinho e as casas todas brancas em volta, parece sempre, à luz dos candeeiros, uma paisagem imaginária e irreal, um quadro inventado por um pintor. Ainda mais quando o grupo de cante alentejano ensaiava  no clube - há no mundo duas mulheres por quem tenho tanto carinho, uma é a minha mãe, outra a mãe do meu filhinho... - o som espalhando-se pela terra e depois até dentro da nossa casa mesmo em frente.
Monsaraz para nós é sobretudo o verão. Mas acabamos sempre por não resistir a um último fim de semana de paz e sossego absolutos. Estivemos quase para desistir e regressar a Lisboa logo após a chegada. A tremer de frio, pusemos a mão na parede da sala e era como se estivéssemos numa câmara frigorífica. Mas não desistimos. Acendemos a lareira e durante a primeira noite não chegámos a despir parkas e casacos. Na manhã seguinte a casa estava habitável  e até apareceu um pouco de sol.
17 de novembro
Absolutamente nada para nos distrair. Horas e mais horas de leitura ininterrupta. Depois, até ao terraço para o pôr-do-sol que nesta época não é tão glorioso como no verão, mas mesmo assim...
Às oito e meia estávamos no Lumumba para o ensopado de borrego seguido de bolo rançoso, sem esquecer azeitonas, queijo curado cortado em fatias fininhas e tinto da Adega Cooperativa de Reguengos de Monsaraz.
Passeio pela terra para fingir que assim fazemos a digestão e depois regresso a casa. Trouxe o computador mas hoje vou fazer gazeta ao e-mail e, em vez disso, fico com o belíssimo livro do Ben Almeida Faria O Murmúrio do Mundo.
19 de novembro
Uma última ida ao terraço para um pôr-do-sol de despedida. Felizmente estamos voltados para Reguengos e Évora e não temos de padecer a vista do Alqueva. Dizem que é o maior lago artificial da Europa. Gostamos muito de ser os maiores de qualquer coisa. Mas a verdade é que o Alqueva, visto lá de cima, de Monsaraz, não parece um lago. Parece um charco. Parece que choveu demais e a água ainda não teve tempo de ser absorvida pela terra.

Paulo Castilho
http://www.youtube.com/watch?v=Mt3-MXNC4lQ

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