domingo, 4 de setembro de 2016

Ucanha


Ferreirim fica num vale que é a bacia do rio Varosa. O sítio é duma beleza suavíssima, sucedem-se as cortinas de árvores, por toda a parte se esgueiram estreitos caminhos, é como se a paisagem fosse feita de sucessivas transparências, mutáveis à medida que o viajante se desloca. E assim será em todo este percurso de pé-coxinho que o levará a Ucanha, a Salzedas, a Tarouca e a São João de Tarouca, sem dúvida alguma uma das belas regiões que o viajante tem encontrado, por todo um equilíbrio raro, de espaço e cultivo, de habitação de homens e morada natural.
Num salto se chega a Ucanha. Está situada na margem direita do Varosa, já alastrando para o lado de lá, e precisamente junto ao rio está a torre que lhe deu fama. Diga-se logo que é uma construção inesperada no nosso país. O telhado de quatro águas, as altas varandas de pedra assentes em modilhões, a janela de mainel, o arco abatido da passagem, a robustez do conjunto são características que reunidas se não encontram em construções medievais portuguesas. Quem por Itália viajou, não se surpreenderia se lá encontrasse esta torre. Em Portugal, é total surpresa. O viajante namora cá de baixo a preciosa imagem da Virgem coroada, com o Menino ao colo, acomodada numa edícula e protegida por um varandim de ferro. E é terra que estima os seus filhos, como se vê por esta lápide que regista ter cá nascido Leite de Vasconcelos, etnólogo, filósofo e arqueólogo dos melhores, autor de obras ainda hoje fundamentais.

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