domingo, 23 de julho de 2017

Marcha fúnebre de Siegfried - Wagner

Na tarde que de névoas se escurece
escuto a marcha que ao herói transporta
fúnebre e doce, tão violenta e fluida,
à sua pira em que arderá cadáver
a cinzas reduzido. Erguem-se os metais
nos ares entreabertos, terra se contrai
onde tambores reboam, e as madeiras
e cordas acompanham o cortejo
descendo para o rio que perpassa
igual sempre a si mesmo de outras águas
como os heróis que morrem tão humanos.
E é o que nos diz este mostrar por música:
os semi-deuses morrem como nós,
como nós sofrem mágoas de derrota,
e como nós desejam, amam, gozam
ou raivam da tristeza de não ter.
Mas nós não possuímos quanto a eles cabe,
neste fervor de imaginá-los, quem
nos cante o fim de tudo o que foi grande,
o que foi puro, o que de consentido
foi gesto dedicado sem usura
ao simples existir além de nós
na terra que nas trevas se nos fecha.
Não temos isto mais do que em só música,
mas os deuses também não, que aos heróis mortos
nunca sobrevivem.

Jorge de Sena
(Poster de Ingrid Rosell)
https://www.youtube.com/watch?v=XPmldLR3bJw

Nenhum comentário:

Postar um comentário