quarta-feira, 23 de abril de 2025
Islândia 1
sexta-feira, 21 de março de 2025
A propósito de guerras
Tome-se um homem,
Feito de nada, como nós,
E em tamanho natural.
Embeba-se-lhe a carne,
Lentamente,
Duma certeza aguda, irracional,
Intensa como o ódio ou como a fome.
Depois, perto do fim,
Agite-se um pendão
E toque-se um clarim.
Serve-se morto.
Reinaldo Ferreira
https://www.youtube.com/watch?v=VMbJ3bQUPRs
Elegia I
Dest'arte me chegou minha ventura
a esta desejada e longa terra,
de todo o pobre honrado sepultura.
Vi quanta vaïdade em nós se encerra,
e dos próprios quão pouca; contra quem
foi logo necessário termos guerra.
Que üa ilha que o rei de Porcá tem,
que o rei da Pimenta lhe tomara,
fomos tomar-lha, e sucedeu-nos bem.
Com üa armada grossa, que ajuntara
o vizo-rei de Goa, nos partimos
com toda a gente d'armas que se achara,
e com pouco trabalho destruímos
a gente no curvo arco exercitada;
com mortes, com incêndios, os punimos.
Nela nos detivemos sós dous dias,
que foram para alguns os derradeiros,
que passaram de Estige as águas frias.
Oh, lavradores bem-aventurados!
Se conhecessem seu contentamento,
como vivem no campo sossegados!
Dá-lhes a justa terra o mantimento,
dá-lhes a fonte clara a água pura,
mungem suas ovelhas cento a cento.
Não vêm o mar irado, a noite escura,
por ir buscar a pedra do Oriente;
não temem o furor da guerra dura.
Vive um com suas árvores contente,
sem lhe quebrar o sono sossegado
o cuidado do ouro reluzente.
Luís de Camões (texto com supressões)
A guerra, que aflige...
A guerra, que aflige com os seus esquadrões o Mundo,
É o tipo perfeito do erro da filosofia.
A guerra, como tudo humano, quer alterar.
E alterar depressa.
Mas a guerra inflige a morte.
E a morte é o desprezo do Universo por nós.
Tendo por consequência a morte, a guerra prova que é falsa.
Sendo falsa, prova que é falso todo o querer-alterar.
Deixemos o universo exterior e os outros homens onde a Natureza os pôs.
Tudo é orgulho e inconsciência.
Tudo é querer mexer-se, fazer coisas, deixar rasto.
Para o coração e o comandante dos esquadrões
Regressa aos bocados o universo exterior.
A química directa da Natureza
Não deixa lugar vago para o pensamento.
A humanidade é uma revolta de escravos.
A humanidade é um governo usurpado pelo povo.
Existe porque usurpou, mas erra porque usurpar é não ter direito.
Deixai existir o mundo exterior e a humanidade natural!
Paz a todas as coisas pré-humanas, mesmo no homem,
Paz à essência inteiramente exterior do Universo!
domingo, 9 de março de 2025
A história repete-se
Antonio Monegal nasceu em Barcelona em 1957. É professor catedrático de Teoria da Literatura e Literatura Comparada na Universidad Pompeu Fabra. Licenciado em Filosofia pela Universidad de Barcelona, doutorou-se em Harvard em 1989 e lecionou na Cornell University.
“A situação que vivemos é muito
parecida com o que acontecia nos anos 30. Temos de procurar os culpados e
livrar-nos deles. Os alemães, nos anos 30, acusavam os judeus, agora o problema
são os imigrantes. Todos os que são diferentes são culpados pelo mal que temos
aqui.
Acho muita graça – mas também é
algo que me provoca tristeza – que num momento em que todos os problemas
económicos provêm da desigualdade e da acumulação da riqueza nas mãos de
poucos, estes poucos estejam a colocar a culpa dos problemas nos pobres. Isso é
um grande paradoxo, os multimilionários perseguirem os pobres.
Como se entende que, face aos
problemas do mundo, os mais ricos tenham conseguido convencer uma grande parte
da população de que os seus problemas são causados por aqueles que são tão ou
mais pobres do que eles. De que têm de atacar essas camadas tão ou mais frágeis
para solucionar os problemas das sociedades, ao invés de atacar a riqueza
acumulada pelos mais ricos: evidentemente, esse é que é o problema do mundo.”
Destaque de uma entrevista de Ana Monteiro Fernandes a Antonio Monegal
https://www.youtube.com/watch?v=8wG3DiqU5-E
domingo, 23 de fevereiro de 2025
Um exemplo de mulher
LEITORA
Confesso o vício de ler
afago
cada palavra
Bebo o feitiço das histórias
cada rosa cada asa
por onde a busca se enlaça
ou na ternura descalça
onde a caneta sutura
Tomo o corpo da leitura
enredo-me no seu abraço
ora vestida ora nua
Ao longo deste prazer
não há nada que eu não faça
em entrega e em devassa
Indo mais longe no ler
encontro o cisne e a rola
na tocaia do prazer
Tenho a paixão da leitura
teima na escrita do perigo
e estremeço de prazer ao entreabrir um livro
Corro as mãos nas suas espáduas
desnudo frases de feltro
afloro as suas pálpebras
Entrelaço as consoantes
com as vogais e o enredo
diante das fantasias no sobressalto do medo
Descubro escusas passagens
pelas cisternas dos livros
ao desfolhar suas páginas
Na entrega e no sustido
nas lágrimas e no sorriso
entre o ardil e o tigre
Ora cumprindo
a harmonia
ora querendo a transgressão
Sou uma leitora voraz
tenho um trato com a audácia
e outro com o perdimento (...)
Deleito-me com a poesia
endoideço com o romance
esquivamento das mulheres
com a sua escrita de leite
de linho e alquimia
de aço rumorejante
Encontro a rima cismada
dobo a palavra a vapor
na teima de quem porfia
Vou em busca do fulgor
corro atrás da literatura
dos textos e da leitura
Sou dependente dos livros
sem eles posso morrer
sábado, 15 de fevereiro de 2025
Das Sagas e das Lendas
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025
Eu sou...
domingo, 26 de janeiro de 2025
O sr. Lopes é um caranguejo
Mais até do que
um polvo
(que também é invertebrado) o Lopes
quando decide lembra
muito um
caranguejo. É realmente engraçado. Quando
se espera que escolha
(que emita opinião)
ele protela um bocado e escolhe avançar
para o lado. O
Lopes que tenha atenção. Tanta
procrastinação ainda
acaba abalroado por esses que
(em rebanho)
seguem em frente
a seu lado.
João Luís Barreto Guimarães
https://www.youtube.com/watch?v=rWvG1iYBU88&list=PLKe6B49zX3GYhFJW-okEfgnSputu2Ahmf&index=8