quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Natal...Natais...



Tu, grande Ser,

Voltas pequeno ao mundo.

Não deixas nunca de nascer!

Com braços, pernas, mãos, olhos, semblante,

Voz de menino.

Humano o corpo e o coração divino.


Natal… Natais…

Tantos vieram e se foram!

Quantos ainda verei mais?


Em cada estrela sempre pomos a esperança

De que ela seja a mensageira,

E a sua chama azul encha de luz a terra inteira.

Em cada vela acesa, em cada casa, pressentimos

Como um anúncio de alvorada;

E em cada árvore da estrada

Um ramo de oliveira;

E em cada gruta o abrigo da criança omnipotente;

E no fragor do vento falas de anjos, e no vácuo

De silêncio da noite

Estriada de súbitos clarões,

A presença de Alguém cuja forma é precária

E a sua essência, eterna.


Natal… Natais…

Tantos vieram e se foram!

Quantos ainda verei mais?


Cabral do Nascimento, em ‘Cancioneiro’

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